24 de dez. de 2009

Infidelidade no Casamento: O Papel do Perdão


Uma das dores emocionais mais devastadoras é a de ter sido traído pelo cônjuge.
Isto porque quando se casa por amor o vínculo afetivo formado ao longo do namoro, noivado e casamento é muito forte e o nível de confiança depositado no cônjuge passa a ser um dos mais profundos nas relações humanas.
Quando ocorre a infidelidade, quebra-se muita coisa e o perdão se faz necessário em algum momento no futuro.
Vamos pensar sobre isto.
Qualquer pessoa, religiosa ou não, está sujeita à paixões afetivas.
Quando ela é religiosa, o compromisso de fidelidade é assumido não só para com o cônjuge, mas para com Deus também.
Ocorrendo adultério, além da quebra da fidelidade com o companheiro(a), ocorre também a quebra do relacionamento com Deus.
Claudia Bruscagin, psicoterapeuta familiar, com doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP e professora no Curso de Especialização em Terapia Familiar e de Casal do Núcleo de Família e Comunidade da PUC-SP, diz, no livro “Religiosidade e Psicoterapia”, Editora Roca, p.59 e 60, 2008: “No contexto religioso, a infidelidade parece denunciar uma falta de compromisso não somente com o casamento, mas também com Deus, com a religião e seus preceitos.
Para o casal religioso, a reconstrução do relacionamento após um caso de infidelidade exige que não somente a dinâmica da relação seja revista, mas também a interação de cada um dos membros do casal com Deus, pois o perdão de Deus é tão importante quanto o perdão do cônjuge traído.”
Cada cônjuge tem um papel quanto ao perdão ao ocorrer a infidelidade.
O do traído é oferecer o perdão, o do traidor é buscá-lo.
Claudia comenta: “Ambos devem avaliar seu relacionamento e restaurar a relação, mudando o que erraram e acima de tudo perdoando verdadeiramente.
Mas o que é o perdão verdadeiro?
Depende dos sentimentos?
Depende de esquecer o fato?
É muito importante entender que o perdão cura a pessoa que perdoa. Viver ressentido é viver com a dor agarrada em você. A palavra “ressentimento” significa “re-sentir”, ou seja, sentir de novo. O perdão interrompe sentir a dor contínua. Quando você perdoa, a dor vai embora e você se sente melhor, mesmo que o perdão não possa produzir o restabelecimento do relacionamento interrompido pela quebra da fidelidade e confiabilidade na vida do casal. Claudia cita M. Pereyra, doutor em Psicologia (Argentina), autor de um livro sobre o perdão:
“A única forma de curar a dor que não se cura por si mesma é o perdão à pessoa que o magoou.
O perdão cura a memória ao trabalhar a mudança de pensamentos.
Aquele que vive remoendo sua dor pode ser mais prisioneiro que o agressor e, ao perdoar, liberta-se da prisão.”
Ainda citando Pereyra: “… perdoar não é passar por cima dos próprios sentimentos, ou simplesmente ‘dar a outra face’.
É um processo longo e dolorido, pois é um ato voluntário de renúncia ao direito legítimo de estar ressentido, de julgar negativamente o ofensor ou agressor e demonstrar uma atitude de compaixão e generosidade para com ele, apesar de não merecer.
Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor.
É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles.
Também significa que os maus sentimentos podem voltar e que talvez seja preciso perdoar mais de uma vez.”
Diz-se que quem perdoa, esquece.
Na verdade, quem perdoa genuinamente, primeiro lembra, analisa, desabafa a dor, depois trabalha para esquecer por decisão consciente de fazer isto.
Perdoar não é desculpar o erro da pessoa.
Claudia explica: “A desculpa ocorre quando há a compreensão de que a pessoa não é culpada pelo que fez.” Você não desculpa no sentido de tirar a culpa, porque ela é real.
Procura perdoar escolhendo fazer isto independente do sentimento porque “o perdão não é um sentimento, é uma escolha.” Escolha de não cultivar a mágoa contra a pessoa que machucou você.
Há ritmo e estágios diferentes para cada um viver o processo de perdoar.
Se alguém der um sôco no seu rosto, produzirá uma marca visível na pele.
Pode sangrar, fica roxo, inchado, etc.
E a cura desta pancada demora um tempo, se você perdoou o agressor ou não.
Algo parecido ocorre no processo de cura da dor da “pancada” da traição.
Claudia fala de estágios para se alcançar o perdão: mágoa, rancor, cura e reconciliação. O primeiro passo é reconhecer os sentimentos e assumi-los. Ela afirma que na fase de reconciliação em casos de infidelidade (ou outros) é importante que o cônjuge que traiu, se quiser seguir na reconciliação: (1)Aceite sua responsabilidade pelo ocorrido;
(2)expresse sincero pesar e arrependimento;
(3)de alguma forma ofereça compensação conveniente;
(4)prometa não repetir a conduta
(5)peça perdão.
Ela conclui: “Na reconciliação, quando possível, o ofendido convida a pessoa que o machucou de volta para sua vida.
Se o outro vem honestamente, o amor pode atuar e juntos podem desenvolver um novo relacionamento.
Esse estágio depende tanto da pessoa a ser perdoada quanto da que perdoa; às vezes a pessoa não volta e é preciso se curar sozinho.”

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